terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vencer Vs Formar

Excerto do Post “Vencer versus Formar” assinado por Nelson Oliveira

Hoje falo do meu tema mais querido, o futebol de formação.
E falo de um escalão do qual sou particularmente fan, o escalão de Escolas.
Sou fan por inúmeras razões. A época passada tive a oportunidade de treinar esse escalão. A vontade e alegria dos miúdos é contagiante, a inocência e a pureza das suas almas surpreendente.
Estamos a falar de atletas com 8,9,10 anos, meninos que acalentam o sonho de virem a ter o mesmo sucesso que os seus ídolos, meninos que se divertem a correr atrás da “redondinha”.
No balneário não há malícia.
Num grupo conduzido para formar e não para resultados, todos jogam, quem fica de fora apoia quem está lá dentro, os pais babam-se a ver os filhos jogar.
O Futebol que se vê é puro, é uma verdadeira festa.(…)

(…)Mas não é sobre mim e a minha experiência que vos falo.
Serve o presente texto para divagar um pouco por aquilo que vou assistindo, por conclusões que vou tirando. Recentemente marquei presença num jogo de escolas em Gaia. Jogavam os dois primeiros, um derby Gaiense.
Pela classificação, pelos pontos conquistados, pelos golos marcados, pensei que iria assistir a um bom espectáculo. Enganei-me...

De um lado a equipa da casa.
Jogadores possantes, bem constituídos, alguns a apresentarem claros sinais de maturação precoce. Logo aí suspeitei que poderia ficar desiludido com o que minutos depois iria ver.
Destacados na tabela, a equipa da casa baseia o seu Futebol em força e vontade.
A organização colectiva é básica. Aos atletas foi-lhes indicada uma posição a ocupar e com o treino os mesmos interiorizaram de forma relativa os “caminhos” que devem percorrer.
Princípios de jogo enraizados não existem. Ganha a posse de bola, os jogadores têm como missão(culpa de quem os dirige) bater, bater o mais forte possível para ganhar metros e se aproximarem da baliza. Não lhes foi incutida mínima preocupação em procurar sair a jogar, em manter a bola no chão e de forma inteligente e minimamente organizada procurarem transportar o jogo para o seu ataque.
Os atletas revelam vontade e confiança. Actuando da forma que lhes foi instruída procuram interpretar aquilo que lhes vem sendo ensinado.
Nas bancadas sente-se o entusiasmo pelo facto da equipa ser 1º. Os pais regozijam-se por ver os filhos ganharem todos os jogos. Não lhes interessa como nem porquê, o que conta são as vitórias.

A equipa forasteira começa a ter alguma tradição no escalão de escolas.
Sem nenhum padrão físico que me permita adjectivar a equipa, destaco a velocidade e a raça que relevam dentro de campo.
O treinador é o mesmo da época passada, o mesmo que os levou ao título da série e á disputa da fase final. No Clube é visto como um treinador de sucesso. Dizem os adeptos do Clube que é um treinador com grande qualidade, que FORMA grandes jogadores.
O próprio Clube demonstra alguma vaidade nos feitos recentes. Apresentam um corpo técnico composto por diversas pessoas, o treinador chega mesmo a ver a 1ª parte do jogo fora do banco. Tudo parece pensado, cuidado.
Puro engano. Afinal o grande corpo técnico nem um massagista têm. O atleta que cai e fica no chão é quanto muito assistido pelo coordenador desse mesmo Clube.
Uma lata de spray, uma garrafa de água e joga...
Da equipa fica a imagem que têm alguns princípios trabalhados. Ficaram-me registadas algumas movimentações ofensivas padrão ou seja, nem tudo foi ao acaso.
Mas olhando de forma mais crítica e mais cuidada percebe-se que é uma equipa trabalhada para vencer. A preocupação é o agora e não o amanha. Aos jogadores pede-se raça, muita vontade, mas todo o trabalho técnico, todo o trabalho que serviria de base para alguns destes atletas sonharem chegar ao topo da pirâmide parece não existir.
Por outro lado a pedagogia é pouca. O tipo de linguagem que por vezes escapa da boca do treinador é assustadora, a forma dura como fala não é adequada a atletas de tão tenra idade. O fair-play na derrota também deixa transparecer alguma falsidade.
Um aperto de mão, um parabéns, mas tudo muito forçado, muito para o “protocolo”.

No fundo parece falta de bom senso criticar o trabalho de duas equipas que estão no topo da tabela da sua competição. (…)
(…) As vitórias que tanto impressionam dirigentes e encarregados de educação podem ser afinal enganadoras. O trabalho de base que os jovens atletas deveriam fazer ao nível motor, técnico é menosprezado. Toda a pedagogia e o incutimento de valores é desvalorizado centrando-se toda a formação psicológica apenas e só nisto: vencer, vencer, vencer!
No fundo todas as vitórias não se expressarão de forma vincada no futuro dos atletas. Quando chegarem á especialização apresentarão lacunas de base, não revelarão preocupação em interpretar no relvado um futebol organizado, disciplinado, coerente.
Aqueles treinadores que centraram apenas e só a sua preocupação em vencer a qualquer custo não terão contribuído de forma decisiva para criar melhores atletas e melhores seres humanos. Serão personagens efémeras na vida daquelas crianças que um dia sonharam em chegar ao topo mas que em alguns casos viram o seu talento desaproveitado por treinadores mal preparados ou que se centram nas suas próprias ambições.

Mas desenganem-se os treinadores que acham que terão sucesso porque conseguiram ganhar mais do que os outros no futebol de iniciação.(…)



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